14.5.07

O Tigre e a Neve - Roberto Benigni

Alguns diretores são repetitivos, outros são autorais. Roberto Benigni se encaixa no segundo grupo. E prova isso com o filme O Tigre e a Neve. Impossível não lembrar de A vida é bela. Mas, longe de trazer uma sensação de déjà vu, essa lembrança se constitui numa espécie de complemento ao primeiro filme.

Attilio de Giovanni (Benigni) é um poeta sonhador (ok, redundância). Mas, nesse caso, ele é sonhador mesmo. Sonha todos os dias que está se casando ao som de You Can Never Hold Back Spring, tocada pelo próprio Tom Waits na cerimônia. Aliás, as cenas de sonho são maravilhosas, variações sobre o mesmo tema e com interferências cômicas da vida real. O fato é que Vittoria (Nicolleta Braschi, esposa de Benigni) sofre um acidente em Bagdá, onde estava para entrevistar um amigo de Attilio, o também poeta Fuad (Jean Reno). Ele parte então ao auxílio de sua amada, numa cidade em plena guerra e sem medicamentos. Ela está desenganada, mas ele se recusa a desistir de lutar pela vida.

À semelhança de A vida é bela, há uma guerra, e há uma ilusão. Mas, dessa vez, o personagem de Benigni não procura amenizar a realidade de outrem, mas a sua própria. Incapaz de lidar com a dureza da situação em que se encontra, Attilio cria um universo paralelo, onde Vittoria não está em coma profundo, mas apenas adormece. O curioso é que, apesar de conversar com ela como se tudo corresse muito bem, ele faz um esforço sobrenatural para prover todas as suas necessidades. Assim como em A vida é bela, o filme provoca risos o tempo todo. Mas, às vezes, o que predomina é o nó na garganta. Às vezes, a crueza da guerra é demais para a sensibilidade de um poeta. E nem sempre a beleza vence.

O mais interessante é que Roberto Benigni não faz uso de críticas ou ideologias para se posicionar com relação à guerra do Iraque. Aliás, ele não se posiciona a favor de um país ou outro. Ele se posiciona, sim, contra aquela situação absurda, mas de forma sutil, através dos sentimentos dos personagens. Em uma das cenas mais belas, Attilio reza um Pai Nosso a Alá, por ser a única oração que sabe fazer. Tão singelo, mas tão profundo, esse ato demostra toda a irracionalidade da intolerância religiosa.

Outros trechos representam as dificuldades no dia-a-dia de quem enfrenta uma guerra em seu país. Em dado momento, Attilio consegue medicamentos para levar ao hospital. E é confundido com um homem-bomba por ter amarrado todos os pacotes ao corpo para poder chegar a Bagdá numa motoca. É de rolar de rir, mas faz parte de uma feia realidade de vida. Também tem a cena do campo minado... Ah! não vou ficar contando todos os bons momentos do filme.

Mas o ponto forte mesmo é o protagonista, com toda o seu carisma. Atrapalhado, distraído, divertido, intenso... Attilio é um daqueles personagens que lamentamos não existirem de verdade. Em dado momento, Fuad diz que cada ser humano é um abismo, que dá vertigem quando olhamos pra dentro. Olhar para o interior de Attilio de Giovanni é como sentir o mundo todo girar.

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3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

teve cabine desse filme, gabi??

16:07  
Blogger Gabi Voskelis said...

não. paguei pra ir na pré!!!

21:02  
Anonymous Anônimo said...

ahhhh... achei que eu tinha perdido.

23:00  

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